quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Situações de Ensaio

Resolvi criar esse artigo depois de uma live muito legal feita com os alunos da Escola SMI.
 
 Nessa aula, mostrei como funcionam os ensaios musicais, afim de orientar a galera que já está despontando para os palcos e o público.

Introdução: Está pronto pra tocar em grupo?

 
 O sonho de muitos estudantes de música é ter sua banda, para tocar em público, fazer eventos e ter também uma renda como músico de palco.
Mas antes de acontecer isso, é necessário que se passe pelo processo de ensaio.
 E antes do processo de ensaio, é necessário passar por um pequeno checklist. Se pergunte:

✔ Sei tocar músicas inteiras sem errar?
✔ Sei tocar de pé com a mesma fluidez?
✔Sei tocar tanto com acompanhamento da música original, playback ou sem nenhum som de fundo?
✔ Consigo tocar quando alguém está olhando?

 Passar por esses passos é primordial. E não é que se busque a perfeição agora...a perfeição é uma busca constante na vida do músico. O objetivo aqui é conseguir um domínio mínimo para que o ensaio flua. E pra isso acontecer, é exigido que os músicos consigam tocar as músicas do começo até o final.

Tipos de Ensaio Musical


    
Essas definições não existem na realidade, mas separei de forma didática afim de fazer entender os diferentes tipos de encontros entre os membros da banda/grupo.

1) Ensaio Amador

    Esse formato de ensaio é descontraído. Não é exigido muito...apenas a presença de todos. Geralmente rola mais diversão do que música em si. Serve como um momento de relaxamento e de aproximação entre os músicos, e claro, já iniciar uma sincronia tocando as músicas juntos. 
    Geralmente, esse tipo de ensaio acontece na casa de algum dos membros (geralmente o baterista). Nesse caso, é legal um quartinho separado com um pouco de isolamento acústico, pois as mães ficam muito bravas com isso. 😁
   Requisitos: levar o instrumento, sua bebida e sua parte na vaquinha da pizza.



2) Ensaio semi-profissional

    É a grande maioria dos casos.
    Nesse formato, os ensaios já pedem que cada músico já tenha dedicação pra tocar as músicas completas. E isso é feito geralmente em um estúdio de ensaio, que é pago por hora ou por pacote de serviços. Em cada região varia, mas é comum encontrar em 2022 preços entre 50$ e 100$ pela hora de ensaio. 
    DICA: sempre reserve pelo menos duas horas, pois uma hora no estúdio passa muito rápido.

    Ao contrário do que muita gente pensa, o ensaio não é para aprender a tocar as músicas, e sim para sincronizar os músicos e adicionar ideias e as características da banda às músicas do repertório.
    Também pode ser usada para processo de composição, que é quando a banda cria uma música nova do zero. 

    Requisitos: levar seu instrumento, microfone e acessórios como pedais e pedaleiras. O estúdio dispõe de amplificadores, cabos e tratamento acústico. Certifique-se de conseguir tocar o repertório todo sem errar muito (pequenos erros, tudo bem. Erros que travam a música, não!). Sempre chegue antes do horário marcado.



3) Ensaio Profissional

    Aqui a situação se inverte, em termos de pagamento. Geralmente o músico não paga o estúdio, e ainda recebe cachê, pago pelo artista/grupo que o contratou para o ensaio, ou pelo seu empresário/produtor.
    Atenção: quando você chegar à esse nível (parabéns!), é porquê provavelmente já passou pelos outros tipos de ensaio antes. Mas caso não, informe aos profissionais que é seu primeiro ensaio. Não é vergonhoso, desde que você consiga provar ter performance e controle. Mais vergonhoso é que aconteçam situações no estúdio que você não tem experiência pra lidar, e eles esperem soluções suas.



  Requisitos: dominar com perfeição as músicas pedidas (aqui já é considerado trabalho, portanto não são admitidos erros). Levar seus instrumentos e equipamentos. Em alguns casos, é necessário saber ler partitura. Chegar antes do horário marcado. Acertar com antecedência o contrato, o cachê e a função do ensaio.


 
Agora que já classificamos os tipos de ensaio, vamos às situações mais comuns e algumas soluções para elas:


Situação 1: Timidez

    Esse é o problema com que você tem menos com se preocupar. Isso acontece com 99% dos músicos iniciantes, e é causado pela falta de confiança de tocar em grupo. Então, tá tudo bem! Só não deixe isso atrapalhar sua performance. Faça o mínimo de um jeito simples. E lembre-se:

Música é arte > arte é pra ser divertida > divirta-se !





Situação 2: Virtuosismo
    É exatamente o contrário do anterior. Se você chegou a um nível muito alto de performance, isso é muito bom. De verdade! Mas não faça com que isso fique chato, transformando as músicas de grupo em músicas suas, fazendo muito mais do que as músicas pedem (especialidade dos guitarristas solo).
    Acredite em mim, e aprenda com os meus erros (sim, eu fiz isso 😜 )
    Pegue leve, vá distribuindo aos poucos sua criatividade em uma música ou outra.

Situação 3: Troca de tom repentina
    Um verdadeiro pesadelo para músicos iniciantes. Você aprende o repertório certinho, e quando chega o ensaio, alguém (geralmente o vocalista) sugere de trocar o tom. Isso muda toda a configuração dos acordes e da melodia. E o quê fazer?
    Se você chegar a um bom nível de conhecimento e experiência, isso nem chega a ser um problema. Simplesmente você converte tudo na hora sem precisar de nenhum esforço. Um bom material ajuda (confira esses aqui). Mas enquanto esse dia não chega...

    Vamos lá: se a mudança for para cima, e você estiver com um violão ou guitarra, pode usar o capotraste. Cada semitom que a música subiu (tom foi pra frente), é uma casa a mais onde você vai colocar o capotraste. E aí é só tocar normalmente, considerando o capotraste como a nova casa "zero" do instrumento.
    Você ainda pode usar dois recursos, que serão descrito abaixo, e funcionam tanto para descer quanto para subir tom.

 

  Mudar afinação do instrumento: você pode mudar a afinação do instrumento de cordas pelas tarraxas para tocar conforme você aprendeu. Se a mudança foi de 1 tom pra baixo (mais grave), você precisa retirar 1 tom de cada tarraxa. E aí é só tocar normalmente. Mas cuidado: evite fazer muitas alterações maiores que 1 tom, pois pode danificar o braço do instrumento. 

    Outra opção é você levar dois instrumentos pro ensaio, sendo que um deles já está em outra afinação. Legal né? Fiz muito isso!

 No caso do teclado, é só apertar o botão de transpose e está tudo certo.

   Calcular os novos acordes: aqui você pode usar um papel e caneta e calcular, ou fazer de cabeça.
    Precisa ter a escala cromática bem decoradinha!
     E acostume-se, pois isso tende a acontecer muito, inclusive ao vivo num show em cima do palco, quando o vocalista chega e diz: man, eu bebi umas ontem e minha voz tá ruim, vamos baixar um tom dessa música. 

    Treine essa situação em casa antes! Veja só esse exemplo:

  Música: Proud Mary (Creedence)
 Acordes originais da introdução: C  A  G  F

Aumentando meio-tom: C# A# G# F#
Diminuindo meio-tom: B Ab Gb E
Aumentando 1 tom: D    B    A    G
Diminuindo 1 tom: exercício pra você! 😇



 O próximo passo é aprender esses novos acordes. Sempre apresento o sistema CAGED e a configuração das 4 pestanas básicas aos meus alunos, e isso possibilita fazer qualquer acorde sem precisar pensar muito.

Se você quiser aprender mais sobre escala cromática, vou deixar aqui uma vídeo-aula gratuita sobre isso: 



Situação 4: Composição
    Isso é muito legal, e quanto mais descontraído e introsado o grupo estiver, melhor flui o processo de criação.
    Geralmente, as músicas começam com uma Big Idea, uma ideia matriz, como uma frase, um refrão, uma sequência de acordes, um motivo... mas cada artista tem seus processos. 
    Nesse momento, contribua com suas melhores ideias. Acrescente, saiba ouvir também.

    Uma coisa bem legal é usar a cadência I IV V, ou II V I de um tom para gerar o "esqueleto" da música. Aprenda isso e sugira na hora da composição. 

    Curiosidade: geralmente, quando um músico profissional lhe pede pra mostrar alguma ideia em um tom específico, você pode resolver essa parada fazendo o I IV V desse tom. E aí é só ir desenvolvendo em cima disso. 😉

Situação 5: Música nova no meio do ensaio
    Do nada, o vocalista diz que vocês vão tocar uma música nova, que nunca tocaram antes (não é composição nova, como no item anterior, mas sim uma música que já existe). Nesse caso, se você nunca tocou essa música, peça ajuda a alguém da banda que já. Pergunte o tom, os acordes... daí tente acompanhar enquanto olha as notas que outro músico faz (dica para violonistas e guitarristas: aprendam a ler as notas que o baixista faz, é bem fácil! ) . 
    Bônus: Se você entender bem de campo harmônico e harmonia funcional, pode se virar bem aqui!

Dica final: não precisa ficar assustado ou estressado com ensaio. Música é arte, e arte precisa ser divertida, lembra?
    Seja aquele que deixa tudo leve: chegando mais cedo, trazendo os instrumentos bem afinadinhos, sabendo tocar bem as músicas... é contagioso quando alguém está comprometido. Tudo passa a fluir mais fácil. 
    Saiba ouvir críticas sempre: só assim você vai crescer. Os ouvidos dos outros são diferentes dos seus!
    E, quando você ver, já vai estar acostumado com essa rotina, e aí poderá aproveitar melhor ainda essa fase que é tão gostosa! 
    



    Espero que esse artigo tenha te ajudado a entender melhor o processo de ensaio musical, e espero que agora você esteja mais preparado e confiante!

    Se precisar de mais dicas ou se matricular em algum dos meus cursos, acesse esse link aqui .


 Grande abraço e muito sucesso!